“S. VICENTE TEM TUDOPARA DAR CERTO

09-11-2011 23:10

 

“…e então, porque é que ainda não deu?...”

Engº. Leonildo Monteiro no Fórum de 4 de Novembro de 2011, no Centro Cultural do Mindelo

S. Vicente tem mesmo uma importância capital a nível nacional. Com destaque para duas vertentes: no contexto político-partidário e nas esferas de poder a níveis central e local.

Com honras de abertura pelo presidente da República, o recente Fórum “S. VICENTE TEM TUDO PARA DAR CERTO” veio reconfirmar isso mesmo. De outra forma não se assistiria, como aconteceu durante o evento, a momentos em que de um e de outro lado, os diferentes protagonistas das esferas político-partidárias e de poder, pareciam - mais uma vez - querer reclamar para si o mérito de terem colocado um pouco mais de brilho no Troféu que parecem considerar S. Vicente e que todos querem agarrar, levantar e ostentar, como símbolo do seu amor maior e prova de benfeitorias pela ilha.

A esperança com que, no período da manhã fui ouvindo a Cabo Verde Investimentos, foi-se desvanecendo aos poucos em desolação ao longo das intervenções dos representantes da Instituição. Confesso o meu cepticismo inicial, mas tinha, ainda assim, alguma confiança de que alguma coisa de novo pudesse ser anunciado, e que, dos anúncios de eventuais investimentos futuros, se pudesse adivinhar alguma luz no fundo do túnel que trouxesse alguma revitalização para S.Vicente. A menos que a minha compreensão seja de um nível muito baixo e lento, não vi certezas e muito menos garantias de concretização da atracção para S. Vicente de todos os biliões em projectos turísticos que mais uma vez foram apresentados aos sanvicentinos e que a plateia voltou a ter que ouvir falar de novo, sem no entanto, desta vez, se inibir de, de vez enquando manifestar entre risos, que deixou de dar crédito aos ditos projectos já sobejamente conhecidos, de tanto bisarem nas telas de projecção de fóruns, colóquios e seminários. Não porque eu seja ou esteja “desesperançada” – para utilizar uma expressão de um dos intervenientes no Fórum quando tentava apelar à motivação da população de S, Vicente no futuro - mas por legítimo cepticismo face a tão adiados quanto tantas vezes propalados projectos.

“A economia é números, confiança e sonho”, como defendeu o moderador João Chantre, no quadro dos “Projectos de Investimento para S. Vicente”, apresentados por Carlos Rocha, em nome da Cabo Verde Investimentos. Eu acrescentaria que é tudo isso, mais a concretização e a necessária mudança de atitude para que consigamos efectivamente R E A L I Z A R.

“CRIAR, COMÉRCIO E CULTURA”, foi a trilogia defendida pela Camara Municial de S.V. Na sua alocução, o Vereador Humberto Lélis, evocou esses três C’s como factores cimeiros para a dinamização de uma melhor qualidade do turismo e de vida em S. Vicente. Pessoalmente acredito que seja possível. Mas com uma nova atitude dos S. Vicentinos e com outras condições para assentar, dar arranque e catapultar a dinâmica que se pretende; da qual tanto se fala como necessidade imperiosa e pela qual parecemos todos continuar, de braços estendidos para o céu a aguardar.

Já para não falar dos Paquetes e grandes Cruzeiros que atracam cada vez mais amiúde no Porto Grande, somos privilegiados com uma das dez mais belas baías do mundo, em cuja novel marina aportam centenas de embarcações todos os anos; e onde se amontoam barcos de recreio sobretudo nos meses de Novembro, Dezembro e até Janeiro. À chegada de mais ou menos tempo no mar alto, tudo o que esses navegadores profissionais e de recreio  querem, para começar, são pratos da terra saídos de cozinhas tradicionais de restaurantes que praticamente não existem, enquanto argumentam que se estão em Cabo Verde, não querem menos do que o típico da gastronomia e souvenir’s de artesanato local. Mau grado as suas expectativas, acabam, em regra, induzidos nas ruas da cidade a levar para casa, gato do Senegal por lebre de Cabo Verde. Que estranho, imaginar-me a comprar em Portugal, vinho italiano; ou em Paris, perfume americano; ou chocolate inglês nos cantões da Suiça .

Mas… e onde estão no Mindelo, os produtos “made in Cabo Verde”? Onde está até, um posto de informação turística digno,  para onde possam dirigir-se os nossos visitantes e serem informados sobre onde encontrar; quando e o quê de atractivo acontece na outrora luzente, viva e reputada cidade de Mindelo?...

Como cidadã que passa grande parte do dia na zona antiga da cidade, posso testemunhar que à chegada a Mindelo, o foco dos turistas que chegam por mar, é a zona histórica da baixa mindelense, o que decerto será comum em todos os portos onde amarram as suas embarcações. Esses são os locais com mais e interessantes histórias para contar sobre o passado e o percurso de um povo. É aí que qualquer turista quer começar por saciar a vontade de conhecer mais de uma terra nova. E afinal, para a sempre grande tristeza, vergonha e humilhação minhas, o que o expectante visitante estrangeiro encontra é o cheiro nauseabundo da urina e, não raras vezes, os corpos em ressaca daqueles que se deixam esquecer nas ruas do antigo centro de Mindelo; é a velhice das calçadas e das fachadas, é o desmazelo de uma zona histórica abandonada à própria sorte; é uma imagem que em nada abona e só envergonha S. Vicente e a sua cidade capital.

Imagino o quanto poderíamos ir ao encontro dos nossos próprios anseios e das expectativas dos nossos visitantes a quem tanto queremos agradar e impressionar se, entre outras iniciativas:

1: se apresentasse a rua da Praia como cartão de visitas de S. Vicente ; se se negociasse e dela se retirasse as lojas de plásticos e de roupas e objectos chineses e se chamasse para esses mesmos espaços, artesão de instrumentos de música e outros, pintores, escultores ; oleiros, enfim…

2 : Se se melhorasse e arranjasse as calçadas da rua de Sto. António; se se fechasse essa larga rua ao trânsito e aí se promovesse a instalação de restaurantes, bares, cafés, e esplanadas onde pintores pudessem pintar e expor ao ar livre; e  músicos pudessem tocar livremente e dar asas à  criatividade para surpreender residentes,  visitantes e turistas estrangeiros ensinados com Cesária a deixarem-se encantar pela nossa música.

3: Se se fizesse uma intervenção na Rua de Matijim e se procurasse soluções para a dignificar sem a descaracterizar…

Provavelmente é sonho, mas enquanto esperamos pelos grandes empreendimentos e investimentos de tantos biliões de dólares repetida e cansativamente prometidos para S. Vicente de há uns anos a esta parte, Mindelo poderia ir tentando  por vias mais modestas e humildes, intensificar e diversificar a promoção da sua cultura; dinamizar o seu comércio local e recuperar e estimular a confiança em si própria e criar assim, uma nova atmosfera cultural e de negócios.

Parabéns à Assembleia Municipal que veio lembrar que afinal, S. Vicente não está votada ao desprezo e que é hora de se levantar; sacudir a poeira e dar a volta por cima. Tem é que fazer por isso!