Em curso o ano de 1460 quando três navegadores portugueses Diogo Gomes, António de Noly e Diogo Afonso – conquistaram o centro das atenções, levando ao infante D. Henrique a noticia destas ilhas, encontradas ao sul das Canárias na costa ocidental africana. Entre os continentes que esboçam os contornos do Oceano atlântico, as dez ilhas que de acordo com o Poeta José Lopes, deviam chamar-se Atlântidas, viriam a tornar-se, bem cedo, receptáculos das influências ocidentais nestas paragens do globo. 


Mais do que a descoberta dos portugueses, o facto histórico de maior relevo para nós, foi que estes dez rochedos ignotos, perdidos nas brumas da história, foram também descobertas pela luz do Evangelho de Cristo, nas últimas décadas do século XIX.

Só que, desta vez as ilhas não foram reclamadas para a coroa portuguesa senão para os domínios do Rei Excelso, o Senhor Jesus Cristo.

Interessante é que a descoberta de Cabo Verde pelo evangelho, coube também a outro navegante natural da ilha mais pequena, hoje habitada, que o poeta Eugênio Tavares cantou dizendo: Ilha Brava, Terra de lava, tamanho e forma de um coração...”.

A história da Igreja do Nazareno em Cabo Verde, passa pelo nome de Rev. João José Dias, jovem oriundo da ilha Brava, nascido em 23 de Maio de 1873 e que aos dezasseis anos, acompanha o pai, a cumprir esse destino bem cabo-verdiano. Parte, rumo à América do Norte.

João José Dias viveu por alguns anos na cidade baleeira de New Bedford, mas depois se transferiu para a cidade de Providence, R.I., onde passou a frequentar a chamada Igreja do 

Povo, da Associação das Igrejas Pentecostais da América (Ver informações acerca dessa Igreja no Manual da Igreja do Nazareno, na sua Declaração Histórica, pág. 16). Esta Igreja está localizada em Providence e é seu pastor o Rev. José Delgado, Cabo-verdiano. Cem anos depois da chegada a Cabo Verde do Missionário João José Dias, designado pela referida igreja, esta veio a ser dirigida por um pastor vindo de Cabo Verde! 

Rev. João José Dias, como muitos outros conterrâneos, em contacto com igrejas evangélicas, compreendendo que “O puro Evangelho é poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê; e que Jesus é “o Caminho, a Verdade e a Vida”, a única via para se chegar ao Pai, fez pública a sua decisão/conversão ao credo Evangélico. O seu zelo, o seu dinamismo, e o interesse em levar aos seus patrícios, nessa região, o Evangelho, convenceram os dirigentes da Igreja do Povo que ali estava um consagrado missionário. Daí, a ideia de mandá-lo a Cabo Verde; a seu povo.

Em Novembro de 1896, na América do Norte foi santificado e chamado para pregar e, ordenado em 8 de Novembro de 1900. A sua escola e o seu professor foram DEUS. Casado com Joana Lomba, nascida também na Brava teve 6 filhas e 2 filhos.
O Rev. Dias iniciou o trabalho na Brava a 1 de Fevereiro de 1901 e a quem coube a incumbência de organizar a Igreja, conhecida como a IGREJA DA PONTA ACHADA.

Das alturas em Nova Sintra, o centro administrativo, o marítimo cabo-verdiano Rev. Rev. João José Dias levantou o farol da Santidade, que havia de difundir a luz da palavra por todas as restantes ilhas do arquipélago, além de procurar alcançar outros quadrantes do planeta, a fim de evitar um historial minucioso, que exigiria o livro, tentaremos elaborar uma síntese, mas capaz de perspectivar três fases do evangelho nestas paragens:

Precursora, Pioneira e Promotora, ou do desenvolvimento

O Superintendente geral, Dr. James Diehl, numa das suas mensagens devocionais à Assembleia, empolgou os delegados e visitantes com o repto para o avanço, sem nos determos a contemplar o passado, exaltando embora o papel de protagonistas como o Rev. João José Dias.

O Superintendente Geral, sem ter isso em mente referia-se precisamente à primeira etapa na chegada das boas novas a Cabo Verde, a saber:
A Fase Precursora:

Sem os precursores da história esta jamais havia de chegar a factos. Foi assim com João Baptista: “ uma candeia a alumiar as veredas, antes de se abrir em plena luz do dia com o inicio do ministério redentor de Cristo.”

Foi assim com David Livingston antes que o Continente Africano viesse a ser conhecido; e é-o também com Rev. João José Dias. Prestou-se-lhe justa homenagem tanto em ligação com o templo de Nova Sintra como ainda sendo o nome dele atribuído também à rua que leva ao edifício em Ponta Achada, onde realizou os primeiros cultos públicos com a igreja organizada, e as filhas dele presente pareciam selar este facto com abraços e beijos a quantos procurassem cumprimentá-las. A fase Precursora é talvez a mais difícil por ser o desbravar do terreno, quando se levantam oposições e contrariedades.

O Rev. Dias enfrentou todas as adversidades que a missão dele impunha, mas tal é o preço que há que pagar na conquista da posteridade, se alguém toma iniciativas de efectuar registos da história.

Entretanto, a fase Precursora não deve deter-nos muito, advertiu o Dr. Diehl contemplar o passado e homenagear os heróis deve incitar-nos ao avanço do processo das realizações e o passo seguinte leva à fase Pioneira. 

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Fase Pioneira

Organizada a Igreja do Nazareno após uma fusão de denominações evangélicas nos EUA em 1908, o trabalho Precursor do Rev. Dias foi perfilhado pelos dirigentes da união. Ele se esforçara por mais de 30 anos a preparar o caminho, em contactos e visitas às outras ilhas, criando condições para a sementeira. 

A Fase Pioneira começou na realidade com suporte na íntegra do exterior. Houve algumas visitas, primeiro de obreiros portugueses, como o Evangelista José Ilídio Freire, a S.Vicente em 1932, quando houve um despertamento extraordinário em que muita gente se converteu. Em Janeiro de 1934, o erudito evangélico Rev. Eduardo Moreira esteve na Brava, onde se verificou também um grande movimento espiritual. Foi organizada então na ilha a primeira Juventude Evangélica em Cabo Verde.

Em 1933, o Rev. Charles Jenkins e a esposa, D. Pérola, visitaram a Brava, onde organizaram a primeira Sociedade Missionária. Depois de uma permanência aproximada de dois meses partiram, deixando profundas impressões em todos os que ouviram D. Pérola a cantar e as incisivas mensagens de santidade do Rev. Jenkins.

O livro “ Nos Primórdios” do Rev. Xavier Ferreira e o Álbum “ Bodas de Ouro” do 50º aniversário falam dos missionários pioneiros Rev. Everette e D. Garnet Howard, que chegaram a Cabo Verde em 1936. Da Brava visitaram a Ilha do Fogo e passaram a S. Vicente em 1938. Por sugestão do Sup. Geral Dr. Chapman passariam a residir na Praia, a capital. Nesta fase do trabalho, a Missão em Cabo Verde foi enriquecida com a chegada de novos missionários. Em 1939 foi recebido o Rev. Samuel Clifford Gay, natural do País de Gales. Este, em 1955 desposaria Charlotte Munn, de Belfast. Os Gays conquistaram corações e almas para Cristo em todas as ilhas.

Em 1946 foram recepcionados o Rev. Earl e D. Gladys Mosteller. Corações de ouro e gigantes quanto à vida espiritual, os Mostellers deixaram marcos que os perpetuam no trabalho de Deus em Cabo Verde.

D. Lydia Wilke chegou três anos depois, em 1949. Enfermeira de qualidades que se fizeram sentir por estas ilhas.

O Rev. Ernest e D. Jessie Eades, com a filha Margaret Anne, chegaram em 1948. Dirigiram a construção do templo em Nova Sintra e criaram em Santiago a Brigada de Evangelização (BEST) à qual se ficou devendo a plantação de várias igrejas no interior.

Na infância, a gente depende em absoluto dos pais e tutores para qualquer movimento, e ninguém faz a sua própria escolha. Chegada a adolescência, paulatinamente a dependência vai cedendo lugar à autonomia. A Missão Pioneira começou a oscilar para a fase seguinte em 1953 com a chegada a S. Vicente do Rev. J. Elton e D. Margaret Wood para a organização do Seminário Nazareno de Cabo Verde. Tão cedo como em 1956, a primeira classe de Formatura seria conduzida em marcha pelo então Marechal da Instituição, o Seminarista Jorge de Barros, até ao fundo do santuário, à frente do púlpito, onde os primeiros 5 casais receberiam diplomas e certificados. Esses pioneiros académicos abriram caminho para a formação de mais de 120 obreiros que, além de terem servido a Cabo Verde, espalharam-se depois pela Europa, África e pelas Américas em serviço do Mestre.

O Rev. Roy Malcolm e D. Glória Henck vieram em 1958, ano em que os Mostellers foram transferidos para o Brasil. Com a chegada dos Hencks o Seminário ganhou novo impulso, especialmente em 1975, com as interrogações que se levantaram naquela efervescência política. E hoje, sob a reitoria da Dra. Maria Odette Pinheiro, há 15 estudantes, depois da 23ª Formatura, a primeira realizada na Brava, na Assembleia do Centenário. 

Passada a fase do Distrito-Missão, chegou a autonomia, com liderança nacional. O Superintendente hoje é o Rev. Emanuel David Simas Araújo, coadjuvado pela esposa, D. Eunice Araújo. 

Esta é a FASE PROMOTORA, ou do desenvolvimento, iniciada pela designação do primeiro superintendente nacional, o extinto Rev. Francisco Xavier Ferreira. No seu relatório, o primeiro da 47ª Assembleia, o Rev. David Araújo anunciou a perspectiva de mais 17 igrejas novas em Cabo Verde.

A transição da Fase Pioneira dos missionários havia de continuar a ter reforço, com a chegada da Família Stroud ( Rev. Paul, D. Nettie e filhos), para implementação da literatura nazarena, grande esforço para a realização dos acariciados sonhos do saudoso líder, Sr. Humberto Pires Ferreira, o primeiro Mentor do Seminário. Em 1973 o Rev. Duane e D. Lidia Srader, com os filhos Mike e Debbie, vieram engrossar as fileiras dos missionários e nacionais. Tendo servido na ilha de S. Nicolau, passaram depois a S. Vicente, onde deram grande apoio na tesouraria da Missão e do Distrito, bem como no Seminário. A seguir chegaram o Rev. Philippe Troutman e a esposa D. Paula e filhos. O Rev. Troutman é especialista no estudo de línguas. Deste modo, a promoção do trabalho estava no rumo certo.

Os obreiros nacionais figuram Antes e Depois do seminário de 1936 a 1948, entraram para o ministério: António Gomes de Jesus, Ilídio Santa Rita Silva, Francisco Xavier Ferreira, Luciano Gomes de Barros, José Neves Caldeira Marques, José Maria Correia e Álvaro Barbosa Andrade ( Bodas de Ouro-álbum do 50º aniversário).

Em 1956 forma diplomados (1ª formatura): António Jaime e Corsinia Nobre Leite, Adriano do Vale e Juvina Araújo, Eudo e Arlinda Tavares de Almeida, Gilberto e Clarisse Évora e Teobaldo Virgínio e Onélia Nobre de Melo. 

O farol aceso por Rev. João José Dias, nas alturas de Nova Sintra, iluminaria todos os recantos das ilhas, enquanto estes rochedos enviariam para outras coordenadas obreiros destacados como Rev. Gilberto Sabino Évora, o primeiro missionário de Cabo Verde para o Senegal, com a esposa D. Clarisse, tendo ele servido por alguns anos como Sup. do Distrito. 

Dr. Jorge e D.Manuela Barros, designados pela Sede Internacional para dirigirem o programa de Literatura de Santidade para os países de expressão lusa, em Kansas City. O Rev. Eugénio Duarte e D. Maria Teresa foram nomeados, também depois de ele ter servido como Sup.Distrital para dirigir a sub-região da África Central. 

O Rev. Daniel e D. Filomena Monteiro serviram como missionários em Moçambique, Angola, depois passaram à Sede Regional. África do Sul e, por último, São Tome e Príncipe. 

Não mencionamos muitos outros que se acham dispersos, no ministério, porque o espaço não permite, mas todos, obreiros cujas vidas resplandecem como astros nos países onde trazem as mãos agarradas ao arado.