Antigos apoiantes de Aristides Lima podem tornar-se independentes – admite Felisberto Vieira

24-08-2005 06:31

 

Cidade da Praia, 07 Set. (Inforpress) - Felisberto Vieira, presidente da Comissão Politica de Santiago Sul do PAICV, admite o cenário de os deputados que tinham apoiado a candidatura de Aristides Lima se tornarem “independentes” e criar um grupo parlamentar, se forem “expulsos” do partido. 

O membro da Comissão Política do PAICV (partido no poder), disse terça-feira em entrevista à Televisão de Cabo Verde (TCV), que a eventual convocação de um congresso extraordinário do partido como propôs Eugénio Veiga (responsável do PAICV na ilha do FOGO), para expulsar os militantes apoiantes da candidatura de Aristides Lima, “terá consequências”, as quais poderão até desembocar em eleições antecipadas. 

“Em tese, poderemos até formar um grupo parlamentar”, sublinhou o dirigente do PAICV’, recordando que o mandato que detêm na Assembleia Nacional lhes pertence, e por conseguinte, podem exercê-lo tornando-se independentes.

Questionado se não existe o risco de o país viver uma instabilidade governativa, respondeu: “a pergunta que coloco é esta: estamos preparados para isso? Acho que não”.

Para Felisberto Vieira, que foi uma das caras notórias das últimas eleições presidenciais, neste momento, um congresso extraordinária do partido não se justifica, mas foi dizendo que não teme a sua realização.

Desabafa, que uma reunião magna extraordinária para ditar sentenças seria “dramático” para o PAICV. “Vamos precipitar, digamos, acontecimentos, e o PAICV poderá correr o risco de passar a uma oposição residual, como aquela que vivemos depois de 1991”, pontuou esse dirigente.

Felisberto Vieira, reiterou, que ele e os companheiros que apoiaram a candidatura de Aristides Lima ao cargo de presidente da República, entretanto derrotado na primeira volta, estiveram do lado dos ideais “fundamentais” do PAICV, que é a “democracia, a liberdade, a autonomia do pensamento e de acção”.

“Estivemos do lado das principais causas de Amílcar Cabral”, vincou aquele dirigente partidário, acrescentando que o grupo se posicionou com “toda a legitimidade e total convicção de que Aristides Lima era o melhor candidato”.

Vieira explicou, ainda, que o apoio que o seu grupo deu a Aristides Lima “nada tem a ver com a sensibilidade interna do partido, nem com a disputa político-partidária”.

Reconhece que o ex-candidato Manuel Inocêncio, apoiado pelo PAICV, fez um discurso “limpo, correcto e bonito”, mas os seus apoiantes “maltrataram” aqueles que estavam com a candidatura de Lima.

Mostrou-se, mais uma vez, indignado pela forma como o presidente do PAICV (José Maria Neves) tratou os apoiantes de Aristides Lima a uma eleição presidencial que, conforme frisou, não é partidária e a própria lei proíbe que os partidos apresentem candidatos.

O membro da CPN do PAICV é de opinião que os resultados das eleições presidenciais foram “catastróficos” para o seu partido, porque foi ignorada uma realidade presente e “subestimou-se a candidatura de Aristides Lima, apesar de se saber que haveria sempre um cenário da segunda volta, em que Lima precisaria dos apoiantes de Manuel Inocêncio e vice-versa”.

“Alguns dirigentes do partido não criaram tais condições”, sublinhou Felisberto Vieira, acrescentando que em vez disso preferiram discursos “inflamados e traumatizantes”.

Instado se José Maria Neves está em condições de continuar à frente dos destinos do PAICV, Vieira respondeu que não vê qualquer problema nesse sentido, mas entende que o líder deve assumir as suas responsabilidades e ser mais “generoso e humilde” e ver a realidade emergente das últimas eleições presidenciais.

Para o presidente da Comissão Política da Região de Santiago Sul do PAICV, nas eleições presidenciais de Agosto o povo cabo-verdiano “apostou no equilíbrio de poderes e na coabitação política”, rejeitando o discurso “violento, da intriga e da calúnia”.

Observou, ainda, que as mulheres e homens do arquipélago recusaram uma “certa cultura de arrogância e ambição de ter todos os poderes”, no quadro da “peregrina” ideia do chamado tripé dos vice-presidentes do partido.

Contrariamente ao que defende José Maria Neves, Felisberto Vieira advoga que, além de Manuel Inocêncio, o presidente do PAICV é um “grande derrotado” dessas eleições e, logo, o partido apanha pela tabela.

“O presidente do partido apostou na estratégia do absolutamente tudo”, declarou Vieira, adiantando, que apesar disso, todas as sondagens realizadas indicavam que Aristides Lima era o candidato melhor posicionado para ganhar as eleições presidenciais e que Manuel Inocêncio Sousa era o mais “rejeitado” pelos cabo-verdianos inquiridos.

Quanto ao abandono do partido, descarta esta hipótese e reafirma a sua disponibilidade no sentido de contribuir para um PAICV “mais forte, mais unido e mais coeso”, incorporando novas dinâmicas políticas.